Chrono Cross e sua icônica trilha sonora

Os anos 90 foram febris para os apreciadores de RPGs. A década que testemunhou a implacável guerra dos 16 bits e mais tarde a potência dos 32 bits, foi fértil no gênero, trazendo aos fãs o início de sagas que ultrapassaram a barreira do tempo. É quase certo que você jogue hoje muitas histórias que se iniciaram nesse período.

Um desses sucessos que permanecem é Chrono Trigger, lançado em 1995, que recorre às questões temporais para criar sua trama cheia de personagens queridos. Produzido por lendas das mais diversas artes, como Nobuo Uematsu, Akira Toriyama, Hironobu Sakaguchi, Yuji Horii e Kazuhiko Aoki, grupo que ficou conhecido como “time dos sonhos”, o jogo foi tão arrebatador que a então Squaresoft tratou de providenciar uma sequência.

Com um predecessor tão amado, a equipe por trás da sequência, Chrono Cross, tinha em seus ombros a pesada missão de superar o time dos sonhos. Com esta difícil tarefa, o produtor Masato Kato tentou jogar no seguro e para compor a trilha sonora do novo jogo, chamou o homem, a lenda, o mito: Yasunori Mitsuda. Ele, que havia trabalhado em Chrono Trigger, se aproveitou da liberdade criativa e do maior espaço que os cds do PlayStation oferecia, além de toda a experiência adquirida na equipe anterior, para criar uma obra-prima sonora em Chrono Cross.

Chrono Cross e a trilha perfeita

Ao colocar o primeiro disco de Chrono Cross no PlayStation, éramos imediatamente recepcionados por uma das mais lembradas músicas de abertura de um jogo de videogame. Eu não consigo sequer mensurar quantas vezes liguei meu velho PlayStation apenas para ouví-la. Scars of Time, em conjunto com a nostálgica abertura do jogo, consegue tocar o mais insensível dos seres.

A história se inicia tensa, misteriosa, num misto de sonho e clarividência. Logo após esse onirismo, tomamos de fato as rédeas dos acontecimentos. Passando por um delicioso clichê dos RPGs, Serge acorda em seu vilarejo natal, recepcionado por uma carinhosa mamãe. Para embalar os seus primeiros passos pela vizinhança, temos Arni Village – Home World. Ela dá o tom ideal da falta de perigos e preocupações que o lar nos oferece. É uma canção íntima, quase um hino que evoca sentimentos de pertencer a um lugar. Serge tem toda uma vida à frente.

Uma boa história costuma possuir conflitos. Conflitos às vezes descambam para as vias de fato. E como todo bom jogo do gênero, além das tramas emaranhadas, as batalhas são momentos cruciais. Tanto para o desenrolar do game, quanto para o crescimento dos personagens. Para nos acompanhar durante esses momentos de batalha, Mitsuda compôs uma música que consegue traduzir o ritmo das pelejas. Ao ouvir Between Life and Death, prepare-se para lutar.

O combate pode até ser tenso, mas a recompensa pela vitória vai além dos espólios adquiridos. Nesses momentos, somos acompanhados de Victory ~ A Gift of Spring ~. É um nome que vai direto ao ponto. Enquanto observamos as mudanças nos status dos personagens e fazemos os ajustes necessários no grupo, esta é a trilha que nos embala.

Quem jogou Chrono Trigger, certamente se lembra da história envolvendo viagens no tempo, um dos grandes chamarizes do jogo. Em Chrono Cross, a trama se encontra na transição entre realidades paralelas no Arquipélago de El Nido. Durante o jogo, precisamos transitar várias vezes entre estas realidades. Por se tratar do mesmo local, independente da realidade, o tom do jogo também é ditado pela trilha sonora. E é aí que Mitsuda mostra que não é um dos grandes nomes da música de jogos por acaso.

Na realidade padrão de El Nido, a trilha se desenrola de forma alegre e, por vezes, festiva. Na realidade paralela, em que Serge descobre a própria morte, a trilha dá o tom sombrio dessa revelação. Ouça Arni Village – Another World e perceba o contraste do tema de sua vila natal em relação à realidade padrão. Essa mudança no tom é notada em outras localidades do jogo.

A trilha sonora de Chrono Cross foi lançada em um conjunto com três CDs, 67 músicas e mais de três horas da mais bela arte sonora dos games. Seu lançamento original ocorreu paralelo ao jogo, em 1999. Mas com o sucesso, vários relançamentos foram feitos ao longo dos anos, de modo que é um pacote relativamente fácil de ser encontrado a preços razoáveis. Ainda hoje, algumas edições especiais são vendidas no site da própria Square Enix.

A quantidade de versões covers encontradas no YouTube e a certa inclusão de várias de suas faixas em shows e concertos dedicados às músicas de jogos mostram o sucesso das composições de Mitsuda. Entre as mais queridas pelos fãs, está On the Beach of Dreams – Another World e seus tons altamente melancólicos.

Ainda ao lado de Scars of Time no hall das mais queridas da trilha de Chrono Cross, há a música de encerramento do jogo. Única cantada, encerra a história de forma encantadora. Radical Dreamers ~ Unstolen Jewel ~ é uma pérola rara em forma de música. A voz doce e melodiosa de Noriko Mitose está nas memórias auditivas de todos os fãs de Chrono Cross.

“…Talvez esta oração que rogo,
Passe pela escuridão de minhas estrelas congeladas,
E chegue aos céus acima de você,
Tão distantes…”

E não para por aí. Com o relançamento do jogo para PC e consoles da atual geração, a Square Enix ofereceu alguns presentes sonoros para os fãs. A The Radical Dreamers Edition tem novas versões de músicas queridas e uma bela nova composição para aquecer o coração dos fãs. Dreams of the Past, Memories of My Soul é a nova recepção aos jogadores no menu principal do jogo, cantada em língua irlandesa por Aisling McGlynn.

Mais Yasunori Mitsuda

Yasunori Mitsuda

Yasunori Mitsuda continua ativo na composição de músicas. Hoje, comanda o Procyon Studio e faz apresentações do melhor de suas composições pelo Japão. Em seu blog e no Bluesky, você acompanha as últimas novidades do compositor e seu estúdio.

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