Bart’s Nightmare | Uma reunião de várias ideias sem profundidade

Bart’s Nightmare é o único jogo dos Simpsons que joguei quando criança. Foi também quando vi pela primeira vez um Mega Drive. Em minha infância, o acesso que tinha a videogames se limitava a um Dynavision que ganhei de presente de minha avó e os pouquíssimos cartuchos disponíveis na locadora perto da minha casa. Não existia no meu círculo de amigos ninguém que possuísse outro videogame que não um clone de Nintendinho. Foi somente em uma visita à casa de um primo que vi aquele console preto bem diferente de qualquer outro que eu já havia visto.

Pelas minhas lembranças, era por volta de 1995. O primeiro jogo que meu primo me mostrou foi Sonic. Eu fiquei bastante empolgado com aquele bicho azul correndo pela tela e coletando argolas. Era tão bonito aquele cenário de cores fortes. Mas esse momento não durou muito. A animação de meu primo vinha de um presente que ele havia ganhado recentemente: um cartucho dos Simpsons. Para mim, aquele jogo não remetia a nada. Eu ainda não conhecia a animação, então apenas achei chato controlar algumas vezes aquele menino amarelo por uma rua sem fim e morrer rapidamente em algum obstáculo idiota. “Então é isso que você tem para me mostrar?” – pensei. Poxa, o Mario que eu tinha em casa era tão mais divertido.

Andando por Springfield

Quase três décadas se passaram desde aquela tarde. Nesse meio tempo, conheci a série animada, joguei alguns jogos posteriores da família amarela e foi basicamente isso. Minhas outras experiências com videogames deixaram qualquer vestígio daquele jogo dos Simpsons como uma vaga lembrança em minhas memórias.

Até agora, pois depois de todo esse tempo, volto ao jogo daquela tarde na casa de meu primo.

Cadê o dever de casa?

Bart está longe de ser o aluno mais querido pelos professores e direção da Escola Elementar de Springfield. Suas travessuras e falta de aplicação nos estudos estão constantemente o deixando próximo da recuperação. Mas até o Bart sabe que é preciso um mínimo de esforço para não se dar mal por completo. Em alguns momentos ele se dedica à realização de seus deveres de casa. No entanto, as coisas nunca são fáceis para ele.

Acorde, Bart!

Dever de casa não está entre as coisas mais empolgantes a serem feitas. Sobretudo para Bart, tentando estudar em seu quarto numa noite quente de verão, o tédio e o calor acabam por adormecê-lo. O ventilador ligado trata de soprar todas as folhas do dever pelos cômodos da casa e até pela rua. O que era um sonho vira um pesadelo de caça ao dever perdido.

Jogando Bart’s Nightmare

Ao despertar dentro do pesadelo, Bart está no que parece ser a rua de casa. E é aí que começa o jogo. Andando pela rua, desviando de caixas de correios malucas, cabeças de estátuas e tentando não ser atropelado pelo ônibus escolar, você logo percebe que a rua não tem fim. Típico de pesadelos! Depois de um tempo, você verá folhas de papel voando por ali. Corra até alcançá-las. Mas o jogo não se limitará a andar pela rua recuperando sua lição. Bart está em um pesadelo e precisará provar que merece se dar bem. Ao recuperar uma das folhas, você terá que fazer uma escolha entre duas portas. Cada uma delas te levará a um mini game aleatório.

Escolha com cuidado

Em um deles, você se transforma em Bartzilla e precisa destruir os veículos que surgem em seu caminho. Logo após, uma sequência de escalada em um edifício, desviando dos objetos jogados por moradores do local. Em outro desafio, você precisa estourar bactérias com sua bomba de encher pneus. É isso mesmo que você leu. Em mais um, você persegue Sr. Burns num avião. Há também o desafio de dar marretadas no Comichão e Coçadinha dentro de casa. E alguns outros, mas acredite, não são bons.

Entre um desafio e outro, você retorna à rua até encontrar outra folha que te permitirá escolher um novo minigame. Algumas vezes, esses momentos podem ser frustrantes, já que o tempo até uma nova folha aparecer pode ser maior do que o razoável. E com o avançar do jogo, os obstáculos na rua começam a ficar mais difíceis. Você pode ser capturado pela gangue de Jimbo, que faz o jogador perder o controle de Bart. Ou pode cruzar o caminho do diretor Skinner, que faz Bart vestir um terno que o deixa mais lento. É importante também, nesse momento, capturar as letras ‘z’ que surgem pelo caminho, o que faz aumentar o tempo de sono de Bart, pois se Bart acordar antes de recuperar as oito folhas do dever de casa, é game over imediato.

Muitas ideias, pouca profundidade

Seguindo o mesmo estilo de Bart vs. The World, da geração anterior, Bart’s Nightmare é uma colcha de retalhos de minigames com uma história de pano de fundo que tenta interligá-los. Se juntos tentam fazer algum sentido, isolados parecem apenas uma tentativa falha de divertir o jogador. Desses minigames, o mais destacado, mesmo que simplório, é o de Bartzilla pelas ruas de Springfield. As cores fortes deixam o segmento bonito e vibrante. E a ideia de encontrar King Homer no topo de um prédio agradará os fãs do desenho.

Bartzilla

Os demais desafios são muito fracos. Todos parecem apenas rascunhos de ideias que os desenvolvedores tiveram no processo de produção, mas sem o tempo suficiente de implementar no jogo final. Os controles, embora mais afinados que os jogos anteriores da família amarela, ainda pecam pela falta de precisão. Ao se movimentar pelo cenário, não é fácil encontrar o ponto correto para acertar os adversários. Este problema ocorre na rua, que é o hub principal do jogo, e no minigame de acertar marretadas na dupla Comichão e Coçadinha.

Bart’s Nightmare, no entanto, não tem apenas falhas. A música, se não é das mais inspiradas, cumpre seu papel de embalar o jogador por aquele mundo de pesadelos. E o visual do jogo é o que mais se destaca na produção. O trabalho feito para levar o mundo dos desenhos para o videogame é competente. A sensação é de andar pela Springfield da animação. Em resumo, este é um jogo melhor que os jogos anteriores da franquia, mas ainda longe de fazer jus ao que os Simpsons merecem.

Bart’s Nightmare
Desenvolvido por Sculptured Software
Publicado por Acclaim
Jogado via emulador de Super Nintendo
Não disponível em plataformas atuais.

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